20041122

22112004A

. . fácil é filosofar quando o outro é quem está fudido

20041120

20112004A

a vida começa mesmo
quando as mentiras
já são relevantes
a verdade já não
é importante
os amigos
que antes
estavam
estão
agora
distantes

20041118

18112004b

..nem tão breve histórico da insegurança

A insegurança alimenta a mente doente que covardemente explora o medo. Faz com que elejamos não democratas, nem delirantes sonhadores de uma desconhecida paz, mas sim réplicas modernizadas – e porque não dizer customizadas – dos medievais queimadores de bruxas. Replicantes sem discernimento, só diretrizes. Assessorados por gênios genocidas, Merlins modernos, com todo o estudo e conhecimento das magias negras. O apartheid e a escuridão da ganância. Exterminadores do futuro. A insegurança nos põe às lágrimas, as tantas que lubrificam as engrenagens da máquina. Mas o sangue precisa ser constantemente derramado para saciar a sede do tanque. De combustível ou de guerra? Projetor de filmes de horror tipo B. O ketchup cai em desuso, é a reciclagem do material, dos costumes, das pessoas. Nunca abalando o culto à ignorância.
Seguramente rentável, o medo movimenta o comércio. As grades, as armas, alarmes. O custo da onírica tranqüilidade é às vezes muito maior do que o soldo daquele que está na linha de fogo. A linha da corda bamba que impõe o equilíbrio eternamente injustificado ou a queda dos valores, dos impérios e das cabeças. Quantos cansados de esconderem-se sob as cobertas são agora os monstros em nossos armários? Quantos cães precisam ser envenenados protegendo teatros caseiros, com 29 polegadas de status hipnótico via satélite e surround sound? E quantas crianças serão eletrocutadas buscando uma bola de plástico? Porque ao invés de prometer hospitais não educamos nossa população para que não sejam envenenados pelo alimento pré-putrefado que exporta nosso dinheiro? Porquê? Porque podemos vender vacinas que causem dependência! E a quem queremos culpar? Os que nunca sentiram a carne entre os dentes? Serão estes os delinqüentes? O que esmola na esquina pela própria segurança? Que quase nunca mata a fome, mas é obrigado a manter o pai bêbado para não ser carneado. O contraventor, o contrabandista, o contratante de mão-de-obra infantil pré-escravista. O passado não viu a paz e pasmem... o futuro é ainda pior.
Sacrilégio alimentar o perdão com o dízimo. A segurança divina não se faz presente na realidade diária. “Se deus vier, que venha armado”. Tenho muito mais medo da lobotomização que acerca os fiéis do que dos lobos que cercavam Maria e em cordeiros transformados foram. O cordeiro de deus, o devorador de pecados. É o justiceiro em cada um de nós, o executivo munido de um rifle que sobre um arranha céu – torre de Babel moderna – descarrega o peso de toda uma vida vazia e sob pressão. A toda criança parida, fruto de pecado, é implicado um alvo cefálico. E nós passamos a vida disfarçando com cortes de cabelos, que distinguem tribos as quais não oferecem nada mais do que o culto à futilidade. E onde estão os cinemas de bairro? A insegurança é a mãe da geração shopping center, por isso dispendemos fortunas em um lazer que até ontem era algo tão social. Hoje elitista. O trânsito em um transe caótico é um afronte à minha inteligência. Estamos sepultando o transporte público e em breve sepultaremos os descendentes que estão por vir, pois não agüentarão os níveis de monóxido de carbono destilados diariamente nos céus das grandes cidades. Ou pior, viveremos entre mutantes supertolerantes, que saciarão suas vontades sabe-se lá com quê.
Nas vilas a vil realidade retrógrada. A lei do olho por olho, dente por dente determina o perfil patético das sociedades secretas que estão emergindo por dentre os emergentes; que até então se mostravam tão seguros em suas fortalezas de pedra, aço e espinhos. Agora pagam impostos aos subcomandos que pela porta da frente entraram com os avanços da química moderna. As drogas que embalam as festas e embalsamam os corpos são as que pagam a tranqüilidade de contos de fada, com as ameaçadoras mensagens subliminares que só tolos ultra-intelectualizados não entendem, na ânsia de encontrar significados inóspitos, mas nem tão geniais quanto imaginam suas cabecinhas ‘nazidisciplinadas’. O medo fabrica heróis virtuais que diariamente mentem nos jornais. Vamos desfigurar os bandidos pra que não tenham que esconder o rosto ante as câmeras renegando os seus quinze minutos de fama. Seja marginal, seja herói? O coelho playboy de capa de revista que visita o submundo de orelhas em pé e nariz vermelho, atrás da diversão drugo-pornográfica que antes só acontecia em portas fechadas e para uma elite dominadora. Mas, hey baby, let’s take a walk on the wild side. Após a meia noite, automóveis se tornam tão letais quanto armas espaciais, desintegram famílias e desaparecem no vácuo como se ocultados por um buraco negro. Tele-transportados para o calor de seus edredons, tendo como única ameaça uma vaga possibilidade de vômito, enquanto sarjetas se alimentam de sangue inocente nas grandes avenidas. E quem de nós era inocente?
O futuro não tem seguro de vida. O plano de saúde será um cordão umbilical? Será que não vamos derrubar as células-tronco antes que tenham fixado raízes fortes o bastante para agüentar nossos gênios tempestuosos? O presente da ciência será um presente para o homem? Ou buscaremos no passado o antídoto para nossos venenos? Vamos exumar e exaltar todos os caciques que o capitalismo selvagem mandou para o underground, talvez eles aceitem nos dar as respostas em troca de mais quinhentos anos de escravidão ou exílio. Um mundo tão pequeno e pessoas menores ainda. Então porque não há espaço suficiente e nos obrigamos a excluir tantos de nós? Será que os Super-Homens que deveriam nos dar proteção não estão ocupando este espaço com seus alter-egos de aço. Meus olhos ficam vermelhos quando penso no que posso, mas não faço. E logo me despeço do que peço, e acho, nunca vou encontrar. A maldita paz.
18112004a

... um soldado pequeno, sob o céu muito alto; um soldado que segue o seu caminho, com suas grandes botas, o seu cinturão e sua mochila, que esquece depressa, e raras vezes fica triste; que avança sempre sob o grande céu da noite.
Um pequeno soldado e uma boa voz; se alguém o acariciasse, talvez já não o compreendesse, este soldado com as grandes botas e o coração endurecido, que marcha porque usa botas e porque esqueceu de tudo – só sabe marchar.
Para além do horizonte, há flores e uma paisagem tão tranqüila que gostaria de chorar, o pequeno soldado. Lá, há imagens que ele não esqueceu, porque nunca as possuiu – são perturbadoras, mas estão perdidas para ele. Não é lá que estão seus vinte anos?

(erich maria remarque)
nada de novo no front

20041117

17112004A

não se meta com um homem cansado, um homem cansado traz problemas.

20041116

16112004a

a guerra não seria tão insuportável
se a gente pudesse dormir mais
isto nunca se consegue na linha de frente,
e quinze dias representam muitas horas de pouco sono.

(erich maria remarque)
nada de novo no front.

20041115

15112004b

pais...
os meus sempre acharam meus amigos
péssimas companhias para mim
já os deles,
sempre me acharam uma ótima companhia
para os seus filhos

..pais talvez não saibam nada.
e eu já sou um deles

e agora josé?
e agora você?
15112004a

... algo entre o hawaii e a poeira espacial

hey mãe
eu tenho uma guitarra elétrica
durante muito tempo
eu pensei que isso era o mundo
e eu nunca iria vender

but hey mom
not me
we never lost control
your face to face
with the man who sold the world

20041110

10112004a

Há má circulação
financeira e sanguínea
o cú esquenta a cadeira
e o nariz segue a linha

agora o dedo gangrena
ante o gatilho
há morte, à marte, a morte e o martírio
amarguras de um amor que foi
o maldito

chora que a chuva chega até nós
chama que eu quero ouvir a tua voz

pois
tua macumba no outro dia vai virar comida
da pomba
que gira
gira
gira

adormece em minha anarquia

abre os braços pra sentir saudade
o teu medo agora tão distante
num peito
bate
bate
bate

até que não respira mais
até que já não abra os olhos
teu nome leio nos jornais
velório
velório
velório

20041108

08112004b

A carcaça
já não passa
de um espelho
mas quando olho
não me enxergo
por inteiro
talvez seja distração
distorção
ou quem sabe um devaneio
abstração
aberração
no meio
não creio
que posso ver o fim
e é tão feio....

..tão feito
pra mim
08112004a

Escorreguei
não consegui segurar
nas lágrimas
nos olhos
e chorei
e choro

de início
assumi todos riscos
e quando riscado
de teus cadernos
fui ao inferno
e perdoei
e sei
que após o todo que me fez
tocou nas minhas mãos
e me envergonhei
pois já no chão
pude ver o quão
distante te imaginei
tão linda
tão tudo
tão bem

20041102

02112004d

e é passivo que um dia uma mera estrela
supere o sol em sua grandiosidade
e nesse mesmo dia ela há de se apagar
o sol por instantes será negro,

mas ela pra sempre será vulgar..
02112004a

Não caminho por caminhos usuais
não sei o que é ser igual aos mortais
os tais que sempre sabem o que é certo ou errado
erraram em caminhar ao meu lado

a razão jaz como flor em frente ao punho forte
enche os olhos em amor enquanto a sua morte
a esperar por palavras nunca proferidas
o tempo, eu sinto, encerra-me em vida

a distância alimenta o fogo da concórdia
que com dor conduz as chamas rumo à miséria
mistérios já não tornam teu semblante belo
e embalam em vozes os meus pesadelos

quero tempo, tenho tempo, mas talvez nem tanto
tampo os olhos quando a vida cerca-me de encantos
em quantos movimentos me senti tentado
por ser ou não ser, por certo ou errado

erro agora e rogo àquele que me coagir
a girar mais uma vez a minha sorte e ouvir
o vilão que sempre escolhe o rubro e o negro em mim
mentiras, mistérios, me espere no fim

traindo meus princípios fui fiel a mim
no céu quis o inferno e lá cheguei e fiz
as regras e os critérios, flores de um jardim
feliz! feliz! feliz! feliz?