20051104

04112005b

Mamãe me dê de mamar
me dê uma máquina
taquicardíaca
que eu não consigo mais viver
eu não consigo mais viver
não consigo mais viver
tão devagar

me devore
me denuncie
me devolva as calças agora
que está fudida

me adore
me odeie
me adote outra vez agora
que já me fez
ir embora
e eu não consigo mais viver
eu não consigo mais viver
não consigo mais viver
tão devagar

abriu-se um pouco
a porta do carro
pude ver o asfalto
apressado
tentei tocá-lo
sangrou-me os dedos
senti meu sangue
assim correndo
e vi que o asfalto
não estava errado
nós nunca correríamos
no mesmo sentido
mas seguimos sempre
lado a lado
lado a lado como bons amigos
04112005a

Por que eu?
eu que fiz todas as escolhas erradas que a vida me ofereceu e ainda assim me mantenho aqui
que não escolhi por viver por vencer por partir não sei onde estou e nem sei porque vim
eu que busquei inúmeras almas pequenas em seus inferninhos particulares nas altas horas de madrugadas frias
restos de gente em meio às pilhas de caixas de garrafas vazias de bares imundos de quinta categoria
bêbadas meninas de família que antes das duas já haviam sentido a mão de uma dúzia de garçons depravados
homens feitos usando drogas tão vagabundamente feitas que foram feitos em nada
eu que reconheci os dentes daqueles que foram antes de mim e não soube ser covarde nem sentir inveja
velei amigos que nem sabiam poder contar comigo em vida senti falta dessa gente perdida filha da puta
vomitei verdades ao invés de fechar minha boca suja e enormemente cansada
queimei os papéis que os inocentavam calei aqueles que os defendiam idolatravam e acusavam pelas costas
eu que conduzi ao poço tantos outros que queriam apenas dar um passeio na areia movediça dos canteiros de obras
que demonstrei o medo neles mesmos assustei embriaguei e encorajei-os a manter segredo de minhas loucuras sóbrias
que tratei de apagar as pegadas daqueles que se envergonharam de ter ido num submundo tão fundo e fudido
eu que estendi meu corpo em espinhos afim de abrir caminho para quem mais me traiu
que atraiçoei até amigos tentando ser justo perante uma realidade ridícula e sem a divina ou devida justiça
que não sou pessoa civil ou militar gay prostituta ou física ou jurídica ladrão refém vítima ou polícia
eu que tive falência generalizada e apesar das pedradas não senti pena de mim assim mesmo
que me escondi pelo simples fato de não fazer diferença estar escondido atrás de lembranças perdidas
que iria querer ir mais longe do que ontem tão longe quanto hoje e sem saber de amanhã o que fazer
eu que tive tempo de testar a tempestade em todas as dimensões em que ela me atingiu na testa
que tentei não atiçar meu fogo somente pelo fato de ainda estar passando frio e fiquei tremendo
que fui fugir aos olhos do furacão e a mesma tempestade me abate num caminho vazio e imenso
e só