20051022

22102005c

Porquê então me importar?
esse mundo é tão falso
que eu não faço
mais questão de mudar
percebi que pra onde eu ia
não podia mais voltar
alimentei suas mentiras
com minha ira
com minha ida ao seu lugar
uma descida que eu pretendia
não experimentar

casei dez vezes com a mesma e cansativa voz que dizia
você veio até a mim assim me ame enquanto eu me vou
você me viu vomitar e não voltou atrás
viu eu me sentir sozinho
e só sorriu sem saber o porque de estar sorrindo
não soube sentar ao meu lado
e sentir minhas mãos
segurá-las
tremendo
tentando não tomar um veneno

vergonhoso
te ver hoje
e sentir pena de mim por ter passado do ponto
por ter pensado estar certo
por ter pisado na bola
quando devia tê-la chutado
te vejo sem escrúpulos
regulando o meu sexo
fingindo eu servir só pra isso
se é que isso não é ser vil
22102005b

As mãos crispadas, os dentes cerrados, mediam com raiva o tamanho da ratoeira de homens em que havia caído:
"Não se toma o avião sem dinheiro. Não há dinheiro sem trabalho. Não há trabalho. Não se toma o avião sem dinheiro . . . Apenas um homem se agüenta de pé, esgotado, sem coragem nem sangue. Não se assaltam os cofres de uma companhia americana, quando os guardam uma patrulha de homens valentes, criados expressamente para serem capazes de matar um homem com um soco . . . Não se parte sem dinheiro . . . "

O salário do medo
(Georges Arnaud)
22102005a

Sei que há sempre um pouco de sexo nesse corpo pra você,

20051001

01102005a

Superhipermercados sem cerveja gelada, sem nada
o esquilo milionário me fazendo de otário
caixas adolescentes despreparados de lojas de conveniência
despreparadas igualmente para ladrões
e sem troco para os meus dez reais
meninos ricos fingindo ser ladrões
meninos pobres fingindo ser ladrões
ladrões fingindo ser meninos ricos
fingindo ser meninos pobres
fingindo ser ladrões
prostitutas adolescentes cruzando os braços
a 12 graus de frio em seus chinelos de dedo
em uma remota esquina escura
dois idiotas numa moto rindo das prostitutas que queriam comer
congeladas prostitutas adolescentes mestiças e famintas
luzes vermelhas, sinaleiras, o expresso da cadeia
viaturas fingindo ser segurança em meio a desesperança total da polícia
uma rua cheia de bares congestionada pela ressaca moral de fim dos tempos
e a plástica e idiota beleza da juventude buscada incansavelmente em cremes da Avon
novidade nenhuma nessa hora, somente a vontade de viver mais um pouco uma mentira
os carros dos cretinos espalhados, popularidade, a cerveja mais cara da cidade
carne fraca oferecendo-se se você prometer beber por 5 pau$ a garrafa
uma quantidade tão grande que o seu pau vá amolecer
ninguém o bolso da sua calça aceita quantas mãos femininas?
oh, puxa! ele deixou cair sua carteira
ninguém riu, ninguém riu
ninguém aglomerando-se sobre mesas sujas vomitadas
de cervejas, veja só, pode rir de ninguém
roupas que foram moda em outras modas, panos de chão, fodas fora de questão
segredos somem em um segundo e no segundo tempo não haverá descontos
sebosos copos espalhados quebrados sem beleza sem espelhos, coragem coragem, a gente vai sair daqui
senta no meu colo enquanto eu escolho outra cerveja
o que? pau duro? calçada? está cansada? quer ir pra casa? você me enche a cabeça
que tal vomitarmos juntos algumas verdades engasgadas
porra! me traz outra cerveja, preciso engarrafar uma dúzia antes de encontrar o carro
talvez devêssemos pegar um táxi não quero sujar meu carro
eu hoje pensei demais e já pensei em te matar
pode dormir sozinha porque eu vou chegar bêbado
eu vou tentar não chegar queridinha
vou tentar não chegar tão perto
vou tentar não chegar se beber
vou tentar não chegar tão dentro
de você