20050416

16042005a

- Acredito – disse eu rindo – que o meu julgamento possa sobreviver às provações. Mas você parece exausto.
- Sim, a reação já está tomando conta de mim. Durante uma semana ficarei feito trapo.
- Estranho – disse eu – como algo que em outro homem eu chamaria de preguiça se alterna com seus ímpetos de energia e vigor.
- Sim – respondeu -, existem em mim traços de um perfeito vagabundo e também de um sujeito muito dinâmico. Muitas vezes penso naquelas linhas do velho Goethe:

“Schade dass, die Natur nut einen Mensch aus Dir schuf,
Den zum würdigen Mann war und zum Schelmen der Stoff”

( “Pena que a natureza tenha criado apenas uma pessoa de você, pois havia material para um homem digno e para um tolo.” )

Aliás, com relação ao caso de Norwood, você vê que eles tinham como supus um aliado dentro da casa, que não podia ser outro que não Lal Rao, o mordomo; assim, na verdade Jones tem a honra incontestável de ter pego um peixe na sua grande rede.
- A partilha parece bastante injusta – comentei, - Você foi quem fez todo o trabalho. Eu ganho uma esposa, Jones ganha o crédito, e diga-me, o que sobra para você?
- Para mim – disse Sherlock Holmes – ainda sobra o frasco de cocaína – E esticou seu longo braço para alcançá-lo.


O signo dos quatro
( Arthur Conan Doyle )